Exposição reúne obras de 10 artistas mulheres do Litoral na UFPR, em Matinhos, até o dia 22 de maio
16/05/2025

Cred. Vinicius Tavares
Desde a última quinta-feira (8) até o dia 22 de maio, a Universidade Federal do Paraná – Setor Litoral (UFPR Litoral), em Matinhos, é palco da III Mostra Sobrecarregada. Reunindo obras de 10 mulheres artistas do litoral paranaense, a exposição tem como tema “Descarrego” e propõe um mergulho nas múltiplas camadas do ser mulher: o corpo sobrecarregado, a ancestralidade, a cura e a criação.
A mostra é aberta ao público, com entrada gratuita, e pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 9h às 21h, na sede da UFPR Litoral, localizada na Rua Jaguariaíva, 512 – Centro. Durante o período de exibição, haverá mediação cultural e visitas guiadas para grupos mediante agendamento. Todas as obras contam com QR Codes de audiodescrição.
Além disso, duas visitas especiais com estudantes já estão confirmadas: na terça-feira (20), às 11h, a exposição será visitada por alunos da UFPR Litoral; e no mesmo dia, às 19h, será a vez de estudantes do ensino médio conhecerem as obras e dialogarem com as artistas. As ações fazem parte do eixo educativo da mostra e visam aproximar o público jovem das reflexões propostas pelas artistas.,
Viabilizado com recursos da Lei Paulo Gustavo, por meio da Secretaria de Estado da Cultura do Paraná e do Ministério da Cultura, o projeto selecionou 10 artistas com trajetórias diversas e linguagens múltiplas — da instalação à performance, da pintura à arte-ritual, da gravura à fotografia.
Conheça as obras em exposição
Entre as obras expostas está a instalação Canteiro de Obras, da professora universitária e artista visual Luciana Ferreira, que utiliza objetos coletados em caminhadas pelo litoral para refletir sobre a produção incessante do feminino. “Ser sobrecarregada também é ser quem constrói, quem está sempre criando. É uma potência, apesar da dor”, afirma.
Manu Assini apresenta Demanda, uma instalação interativa com referência aos rituais de terreiro, onde o público é convidado a escrever nomes de mulheres que sofreram violência — e de seus agressores, e depois queimar. A obra promove uma ação simbólica de memória e justiça. “É um ritual artístico que propõe descarregar dores e lembrar de quem veio antes”.
A artista Bah (Maria Abadia) transforma garrafas descartadas em esculturas coloridas que representam guardiões simbólicos. “A sustentabilidade também é uma forma de arte. O que quero guardar para os filhos dos meus netos? É isso que eu proponho”.
Mila Gouveia, ialorixá e artista plástica, apresenta uma escultura de Exu Bará, numa representação que confronta o racismo religioso e valoriza a espiritualidade afro-brasileira. “Hoje, em vez de descarregar os outros, eu me descarrego como artista. Exu é transformação — e agora ele protege a mostra”, declara.
A performance de Kairu Ypiara, artista indígena da aldeia Cerco Grande, em Guaraqueçaba, trouxe ao público os atravessamentos da vida indígena contemporânea. “Nossa arte é feitiço: atrai o olhar curioso para que a gente possa falar de temas sérios. É bom ver a arte indígena ocupando todos os espaços”.
A jornalista, professora e escritora Aline Olívia criou a instalação Ninho – O Peso do Voo, com ninhos humanos que acolhem o público. “O descarrego é deixar o que não serve e construir um espaço onde a gente possa pousar, se acolher. É sobre autoamor”.
Autodidata, Vanessa Alves pintou a série Marés Femininas, que estabelece um paralelo entre o mar e as emoções das mulheres. “O mar cura. E mesmo nas rotinas sobrecarregadas, um banho de água salgada pode ser a pausa que salva”.
Nico Santos, em sua primeira exposição, apresenta a pintura Rainha dos Oris, uma homenagem à Iemanjá. “A mostra me deu a oportunidade de me enxergar como artista. É uma honra louvar minha mãe espiritual por meio da arte”.
Elencristina produziu duas monotipias impressas com o próprio corpo, abordando a dor física e emocional da sobrecarga feminina. “Minha obra é um retrato literal do corpo sobrecarregado. E foi feita a partir de uma dor real — uma lesão na coluna”.
Por fim, Liz dos Anzóis homenageia Dona Mide, do Grupo Folclórico Meu Paraná, uma das responsáveis pela preservação do fandango caiçara no Paraná, por meio de uma exposição fotográfica que mescla registros pessoais e objetos tradicionais. “Mesmo à margem de parte dos grupos, ela carrega há 60 anos o fandango nas costas. Essa é minha forma de afirmar que ela é parte, sim, dessa cultura”.
Valorização das artistas do litoral
O projeto é idealizado e coordenado por Marina Chiva, gestora do Espaço Sideral — Ponto de Cultura reconhecido pelo Ministério da Cultura. Para ela, a mostra é uma forma de valorizar o trabalho artístico das mulheres da região e ampliar espaços de expressão para quem historicamente foi silenciado. “As artistas foram remuneradas pelo projeto, o que representa não apenas reconhecimento, mas também um compromisso com a profissionalização e valorização da arte produzida por mulheres do litoral”.
A curadoria é assinada por Gio Soifer, artista e idealizadora da Residência Encosta. “Na Mostra Sobrecarregada, abraçamos o ‘descarrego’ como tema e potência: um convite a liberar cargas, a transformar excesso em criação”, afirma Gio. O processo curatorial foi conduzido por escuta, sensibilidade e conexão entre as obras, que transmutam a sobrecarga cotidiana em potência estética e política. “A proposta foi reunir vozes que falam de dor, mas também de prazer, ancestralidade, cura e transformação”.