“Invocação do Mal 3 – A Ordem do Demônio” e a banalização do terror

CONTÉM SPOILERS

No início de junho, o aguardado “Invocação do Mal 3 – A Ordem do Demônio” chegou aos cinemas brasileiros.

O longa, que é baseado na história real dos investigadores paranormais Ed e Lorraine Warren, adapta o famoso caso de Arne Cheyenne Johson, em que a defesa buscou provar a inocência com base na alegação do réu de possessão demoníaca. Porém, o evento escolhido para a trama principal não se sustenta, fazendo com que milhares de subtramas mantenham o filme interessante (e olha lá....).

Um dos possíveis motivos para o fraco desenvolvimento, pode ser pela mudança do diretor James Wan, responsável pelos dois primeiros da trilogia, por Michael Chaves, que estreou na direção de um longa-metragem com “A Maldição do Chorona”. Uma das características que pode-se ver de acordo com as produções dirigidas por Chaves é o excesso dos jump scares, os famosos “sustos”. Chega a ser quase um insulto para os fãs de terror utilizar esse recurso a todo o momento.

"A Maldição da Chorona" não conquistou os fãs de terror, porém foi bem executado

O que acaba assustando nos filmes do gênero é o crescimento da tensão, uma espécie de termômetro que vai deixando o espectador cada vez mais envolvido na trama. Entre alguns dos filmes que fizeram isso muito bem está o filme de estreia desse universo, o "Invocação do Mal", que conseguiu mostrar esse desenvolvimento da tensão não só pela drama que aflingia a família na produção. No início, os acontecimentos são leves, com manchas na pele, barulhos estranhos e outros sustos crescentes que vão deixando o espectador grudado na tela. A sonoplastia então ajudou e muito na criação dessa atmosfera tensa.

"Invocação do Mal" foi um marco fazendo o gênero de terror ganhar novos fãs

Também podemos falar do clássico de 71, "O Exorcista", que até hoje é considerado um dos melhores filmes de terror de todos os tempos, e traz a adolescente Regan, uma jovem inocente e dócil e sua evolução para a figura demoníaca, mostrando alguns trejeitos mais sutis, como o xixi no tapete, até coisas bem mais vulgares, como a cena do crucifixo, do vômito, e por aí vai, até chegar no clímax.

Em "O Exorcista" o clima de terror vai ganhando força do início ao fim, trazendo não só convencimento para o público mas também desconforto à medida que o longa desenvolve

"Hereditário", de Ari Astar, também consegue desenvolver a história de forma muito intrigante e sem entregar tudo de bandeja para o espectador ou utilizar em excesso recursos baratos e clichês do gênero.

Cena inicial de "Invocação do Mal 3 - A Ordem do Demônio"

Já em “Invocação do Mal 3 – A Ordem do Demônio”, a própria cena inicial já dá um pouco de como o filme vai desenrolar. Logo de início temos uma tentativa de exorcismo do irmão caçula da família, que é irmão da namorada de Arne, e que faz com que ele convide o demônio para o seu próprio corpo na tentativa de salvar seu cunhado.

Porém, essa trama principal não consegue exercer o seu completo papel de "principal", e daí já entramos com a super-heroína Loraine que consegue descobrir tudo apenas com o toque de suas mãos. Essa habilidade dela, que era bem convincente no primeiro e no segundo filme, agora é um recurso excessivo, quase que cômico. Lembrando que o filme é vendido com a premissa de ‘história real’.

Enquanto Arne segue na prisão esperando seu julgamento, o casal Warren descobre que o jovem, além de possuído, também era meio que controlado por uma satânista, que também fez esse mesmo ritual com uma outra jovem da região próxima. E lá vai o casal Warren coletar algumas provas que provem a conexão dos casos e, voi lá, Lorraine encontra o corpo da garota que a polícia havia passado meses à procura e comprovando que a jovem também havia sido possuída na hora que cometeu o crime.

O objeto que permitia esse tipo de controle era uma espécie de totem do mal, feito com partes de animais, e que foi enviado também para o Ed Warren depois que o casal passou a ser uma chave essencial para desvendar o mistério.

Qual a necessidade de abrir iniciar um filme de terror com uma cena que poderia ter sido assustadora em momentos futuros do longa? Por que transformar o gênero de terror adotado pela franquia em uma combinação fajuta de CSI sobrenatural em que a satanista conseguia controlar até um cadáver? (Quer mostrar o vilão controlando um cadáver, mostra, mas por que vender o filme com o 'história real', se nada na produção acaba se tornando convincente?)

"Invocação do Mal 3 - A Ordem do Demônio" é um filme ruim? Não.
Se você não foi impactado pelos teasers, trailer e pela forma que a produção foi vendida para o público, o longa pode te agradar, sim. Mas, para quem já acompanhava esse universo cinematográfico do casal Warren e estava ansioso para o filme, a resposta é: poderia ter sido melhor.

Um festival de excessos em um longa que poderia ter ajudado fechado com chave de outro a trilogia de "Invocação do Mal" e dar mais gasolina para as próximas produções desse universo. (Mas, não significa que você não deva assistir ao longa. Muito pelo contrário, assista e venha trocar uma ideia com a gente).